Entrevista Editora Polifonia

Nesta entrevista, Adriano Zerbielli fala sobre o seu livro de estreia O Clube da Morte.

Adriano Zerbielli é músico, graduado em Administração de Empresas (Faculdade Senac – RS) e em História (IFCH – UFRGS), além de possuir especialização em Estratégia e Relações Internacionais Contemporâneas (PPGEEI – UFRGS). Atualmente cursa a graduação em Ciências Sociais (IFCH – UFRGS), mestrado em Sociologia (PPGS – UFRGS) e é pesquisador do Núcleo Porto Alegre do Observatório das Metrópoles no projeto “Direito à cidade, mercantilização, financeirização e transformações no regime urbano: o caso da metrópole de Porto Alegre – RS”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Editora Polifonia (EP) – Qual o tema principal de seus escritos?

Adriano Zerbielli – Eu tenho a morte como o principal tema dos meus escritos. Só que, ao contrário do que possa parecer, não trato dela por ter qualquer apreço por pensamentos mórbidos ou algo parecido, mas para convidar o leitor a analisar a forma como está levando a sua própria vida.

EP – Qual o motivo de você ter escolhido essa temática?

Adriano Zerbielli – Enquanto uma pessoa ligada às Ciências Humanas e às Ciências Sociais Aplicadas, além de já ter passado por algumas poucas e boas na vida, possuo uma postura bastante crítica frente aquela nossa dinâmica social de antes da pandemia. A maioria das pessoas estava sempre correndo, sem saber bem para onde e nem para quê, com metas pessoais efêmeras e imediatistas que giravam em torno, basicamente, do atendimento de demandas de consumo, e do usufruto de uma série de experiências, não refletindo sobre suas condutas e práticas cotidianas. Por causa disso, era cada vez mais frequente terem a sensação de que o tempo passava muito rápido. Quando se davam conta, o ano já estava por terminar; os filhos de amigos e familiares, que ontem eram crianças, hoje já eram quase adultos; coisas que fizeram há anos parecem que foram feitas na semana passada; e sem falar daqueles que, como eu, já passaram dos quarenta e sentem os reflexos disso no corpo (que já não tem a mesma disposição de antes) e na memória (que por vezes falha). Portanto, essa forma mecânica e pouco reflexiva de agir dificulta que muitas pessoas enxerguem o óbvio: existe um prazo limite para suas vidas. No entanto, o grande problema é que poderá ser tarde demais para aquelas que vierem, um dia, a concluir que não a conduziram de uma forma equilibrada. Só espero que a parada forçada, em virtude do corona, ensine algo a essas pessoas. Até acho que algumas irão colocar um pouco o pé no freio, mas uma boa parte está louca para voltar a correr como antes.

EP – O livro traz um interessante questionamento para o leitor refletir: “Será que temos o direito de decidir quando vamos morrer? Existe alguma justificativa para que alguém defina quando isso deva acontecer?”. Fale sobre a problemática do livro.

Adriano Zerbielli – A problemática do livro gira em torno da eutanásia trazida à tona nos posicionamentos dos personagens da trama frente a um inusitado pedido feito por um deles: interromper a sua trajetória final de vida que, a partir de um certo ponto, seria marcada pela dor, vergonha e sofrimento devido à descoberta de uma grave doença. A história é narrada, em primeira pessoa, pelo personagem Augusto que, anos antes, faz esse mesmo apelo aos seus amigos mediante a tomada de conhecimento do triste desfecho de vida que teve um senhor que conheciam. Na época, tal proposta não foi levada a sério. No entanto, alguns anos depois, um novo encontro foi marcado para ser pedido que aquela ideia fosse colocada em prática. A partir desse momento, eu convido o leitor a refletir no que deveria fazer caso passasse por aquela situação. Atender o apelo de um amigo que não quer ser lembrado estando em um estado de fragilidade e dependência? Ou ficar ao seu lado até a chama da sua vida se apagar vendo-o sofrer dia após dia? Elaborei a trama em torno dessas questões nos quais os personagens tiveram que tomar uma decisão. Mas só posso ir até aqui, para descobrir o desfecho da história só lendo o livro.

EP – Fale da experiência de ter editado o livro conosco:

Adriano Zerbielli –Foi uma experiência muito rica ter editado o livro com a Polifonia, na medida que aprendi muito, não apenas no que diz respeito à edição em si (um processo pelo qual eu nunca havia passado antes), mas também no sentido de desenvolver o meu estilo de escrita. Isso pelo fato de o texto ter passado por uma leitura crítica feita durante a edição pela própria Polifonia. A história foi lida, compreendida em sua proposta e, a partir daí, me deram boas dicas de refinamento do texto para que eu refletisse sobre elas. Aquelas coisas que só um olhar qualificado, vindo de fora, consegue enxergar. Por fim, a Débora Porto, na revisão textual, podou alguns vícios de linguagem, e fez um ótimo trabalho com relação à capa e à diagramação. Todos que pegam o livro na mão elogiam a edição, dizem que é um livro muito bonito, até pelo fato de ser com capa dura e em papel pólen. Eu fiquei muito contente com o resultado final, recomendo muito o trabalho da Editora Polifonia. Ah… E os que já leram o livro gostaram muito da história também!

EP – Quando o seu livro foi lançado?

Adriano Zerbielli – Lancei o livro na 65ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, no dia 16 de novembro de 2019, um sábado à tarde. Estava bem legal, apesar do meu nervosismo! Vários amigos e familiares estiveram presentes.